Câmara de Anápolis presta homenagens ao celebrar Dia da Consciência Negra
A sessão solene realizada na noite de sexta-feira (19.nov), na Câmara Municipal de Anápolis, em homenagem ao Dia da Consciência Negra, foi marcada por discursos contra o racismo, cobrança por mais igualdade e demonstrações das influências africanas na cultura brasileira.
Dirigido pelo vice-presidente Domingos Paula (PV), o evento foi organizado a partir de uma propositura do vereador Delcimar Fortunato (Avante) e contou com as presenças de Cleide Hilário (Republicanos), Cabo Fred Caixeta (Avante) e Seliane da SOS (MDB).
“Fico feliz de poder oferecer ao nosso povo, aos nossos irmãos negros, um dia só para nós”, disse Delcimar na abertura do seu discurso. Em seguida, ele fez um relato do surgimento do Dia da Consciência Negra, a partir de um movimento nos anos 1970 no Rio Grande do Sul, encabeçado pelo poeta, professor e pesquisador Oliveira Silveira.
“Fui ensinado desde cedo a ter respeito e tratar todos com igualdade. Apesar de ser direito fundamental da pessoa humana, muitos tratam a gente como inferiores, mas não podemos desistir nem quebrar a história dos antepassados, pois hoje temos a sorte de usufruir mais do que eles. Seguimos em luta até vencermos todos os preconceitos e racismo no país”, disse Delcimar.
A técnica de enfermagem Rosângela Correia de Matos, 62 anos, próxima de se formar em enfermagem, uma das homenageadas da noite, deu seu recado: “nesse mundo de dificuldades e lutas, quero desejar paz a vocês”.
Para o presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB Anápolis, José Rodrigues Ferreira Júnior, a luta deve ser perene e unir poder público e entidades civis. “E estou sempre à disposição dessa nobre causa”, completou o advogado.
A ativista Simei Silva Pereira de Lacerda, que é socióloga e pedagoga, propôs uma reflexão sobre a data, apresentando números que mostram o quanto é difícil ser negro no Brasil. “Ser menino negro de 15 a 18 anos é ter 80% de chance de morrer em situação de violência. Ser negro é ganhar 17% a menos que outra pessoa, na mesma condição social e profissão”.
Simei disse que o debate não passa pelo questionamento sobre se o negro tem ou não capacidade. “Todos nós temos. O que lutamos é por oportunidades iguais. É por isso que estamos aqui”.
As irmãs Betty Mae Agi e Brenda Rucshana Agi, da ONG Compaixão Internacional, também discursaram. Betty contou a trajetória de como chegaram a Anápolis para estudar, o apoio que receberam da comunidade negra local e as conquistas a partir da criação de um projeto social, premiado na ONU.
A servidora da Câmara Municipal Marlúcia Ribeiro de Araújo Pereira emocionou a todos ao narrar sua trajetória para alcançar reconhecimento profissional, reafirmando as dificuldades de ser mulher negra. A sua luta espelha o que também passou sua mãe, viúva com nove filhos que teve que trabalhar diuturnamente para cuidar de casa. “O negro é o que ele quiser ser”, concluiu Marlúcia.
A sessão solene teve a presença do presidente do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial, Lehi Soares Ferreira Souto.
Pedro Resende e Maressa Raianny fizeram uma apresentação musical. O evento também teve uma demonstração do Grupo da Escola Abadá Capoeira, presidida pelos mestres Camisa e Charm, com o professor Zulu.
Os homenageados
Rosângela Correia de Matos
Técnica de enfermagem com 30 anos de carreira. Hoje trabalha na Unidade de Saúde Ilion Fleury e é formanda no curso superior de Enfermagem aos 62 anos de idade.
Brenda Rucshana Agi e Betty Mae Agi
São irmãs, filhas de pai moçambicano, projetistas da ONG Compaixão Internacional. Além do trabalho voluntário, são sócias e fundadoras da empresa Genial Projetos. Em 2020, foram listadas como duas das afrodescendentes mais influentes do mundo pelo MIPAD 100, em lista reconhecida pela ONU.
Tenente Ronildo Francisco Braquiel
Entrou como praça na Polícia Militar em 1987, se tornou oficial em 2016 completando 34 anos de serviços na segurança pública em Goiás.
Marlúcia Ribeiro de Araújo Pereira
Filha de mineiros, criada em Anápolis, casada, mãe de três filhos, servidora há oito anos, lotada no Protocolo da Câmara Municipal de Anápolis. Também é técnica de enfermagem.
Isabel Ferreira dos Santos Sousa
Mãe, casada, possui dois cursos superiores, Pedagogia e Gestão Pública e é servidora da Câmara Municipal de Anápolis desde 1980.
Carlos Eduardo Batista
Teve que amadurecer precocemente devido ao falecimento do pai, porém, mesmo com as dificuldades, se formou em Administração e se pós-graduou em Logística. Hoje é servidor efetivo na Câmara Municipal de Anápolis.
Levi Sabino
Paulistano, morador de Anápolis há 22 anos. Filho de mãe goiana e de pai pernambucano, tem 17 anos de serviço público e hoje trabalha na Câmara Municipal de Anápolis.
Patrícia de Jesus Mendes
Nascida e criada em Anápolis. Blogueira, especialista em extensão capilar e maquiadora. Foi mãe solo aos 19 anos, hoje é casada, mãe de três filhos e ativista pela cultura negra em busca constante da isonomia racial.
Pedro Paulo Vieira Resende
Anapolino, filho dos também anapolinos Maestro Wando e Antônia Resende, músico pós-graduado pela UnB e servidor público efetivo há nove anos, integrante da banda Lira de Prata de Santana.
Casa Hip Hop - Centro Artístico Social Anapolino
Criado e mantido pela Associação Cultural Motriz desde 2014 em parceria com Prefeitura de Anápolis, tem como objetivo fomentar e qualificar os elementos da Cultura Hip Hop como DJ, breaking, rap e graffiti. Atualmente beneficia diretamente 242 jovens, com diversas oficinas.
Nilza Paulina Félix
Nascida em Minas Gerais, moradora de Anápolis há 77 anos. Mãe de 11 filhos. Seu caçula é o vereador Delcimar Fortunato.
Florací Quirino de Oliveira
Nascida em Pindorama, no Tocantins, moradora de Anápolis há 11 anos, guerreira, mãe de sete filhos e avó de sete netos.
Maria Benedita Cassimiro Pereira
Nascida em 1940, natural de Sacramento (MG), porém sua família veio para Anápolis em 1947. Hoje com seus 81 anos, representa sua família como mulher guerreira e batalhadora.
Simei Silva Pereira de Lacerda
Socióloga, pedagoga, mestra em Educação, professora universitária, ativista social e palestrante. Atua como coordenadora da Educação Permanente do Heana. Especialista em Política Pública, MBA em Gestão de Projetos, Mestra em Educação pela UEG. Filha de pai negro e mãe parda, retirantes da seca no Nordeste, reside em Goiás desde a infância.
Rogério Lisboa Camilo
Nascido e criado em Anápolis, pai de quatro filhos, formado em Administração. Atualmente a serviço da Câmara Municipal de Anápolis como chefe do Setor de Gestão de Pessoas.
Uárisson de Oliveira Souza
Casado, pai de três filhos, formado em Administração e Direito, nascido em Brasília e residente em Anápolis há 10 anos. Foi aprovado em 1º lugar no concurso da Câmara Municipal de Anápolis para analista em 2017. Preside a Comissão dos Servidores Efetivos da Câmara.