Audiência debate políticas públicas para atendimento aos autistas em Anápolis
Audiência pública realizada na tarde desta terça-feira (3.abr), na Câmara de Anápolis, tratou de políticas públicas para autistas em Anápolis, com a presença de diferentes autoridades ligadas à área da inclusão de pessoas com deficiência.
O debate foi proposto pelo vereador Reamilton Espíndola (Republicanos), que chamou a atenção para a revogação, feita pelo presidente Lula no dia 1º de janeiro, do Decreto nº 10.502/2020, que instituiu a Política Nacional de Educação Especial.
Segundo o vereador, o tema precisa ser melhor debatido e, se for o caso, propostas melhorias, mas não se pode desconsiderar a realidade daqueles que vivem todos os dias com autistas severos.
“Como pai de autista vivo a realidade todos os dias dentro da minha casa. Graças a Deus meu filho teve a habilidade de aprender, mas e os outros, que não tem essa condição?”, argumentou o vereador, que afirmou ainda que sua luta passa por garantir dignidade e equidade a todos.
O presidente da Apae Anápolis, Vanderley Cezário, reafirmou a posição da entidade em estar ao lado da Câmara nas lutas voltadas à inclusão. “Em busca de igualdade, de direitos, é uma luta constante e vamos, sempre, em busca dela”, completou.
Cezário falou sobre as dificuldades da Apae. “Não temos estrutura para atender todos os autistas da cidade. Até gostaríamos, mas isso infelizmente não é possível”. Segundo ele, o apoio à entidade ainda não é o suficiente.
“Para a conta fechar é preciso passar o chapéu, fazendo rifa, fazendo galinhada. É difícil a vida do terceiro setor, mas a gente se abraça e é isso que nos leva a fazer algo diferente nessa vida. A gente sabe que tocar algo nesse sentido no Brasil é muito difícil. Estamos juntos nessa luta e batalha sempre pensando o melhor para os autistas”, afirmou o presidente da Apae.
A diretora de Inclusão da Secretaria Municipal de Educação, Juliana de Paula, apresentou um panorama da rede: são 646 autistas matriculados e outras 761 crianças que apresentam sinais, mas cujos casos ainda estão em investigação clínica. “É um número crescente. Tem sala que temos de três a quatro crianças com algum tipo de deficiência, por isso precisamos ampliar o debate”.
Juliana informou que fez uma reunião com o juiz da Infância e Juventude, Carlos Limongi, onde apontou a realidade das crianças autistas na rede municipal. Segundo ela, são questões que viram desafios diários para os educadores.
“Quando, por exemplo, uma criança desregula e precisa ligar par a mãe. Às vezes ela não entende que precisa dessa parceria acha que a gente não quer ficar com criança”, comentou a diretora.
A proposta, prosseguiu Juliana, é montar uma comissão para discutir demandas de Anápolis, pensar em políticas públicas específicas frente às necessidades que surgem a cada dia. Ela ressaltou o avanço que será a inauguração, em breve, de uma clínica-escola do autista.
A gestora do Cemad (Centro Municipal de Atendimento à Diversidade), Valdiléia Prado, também compartilhou os desafios de atender autistas – 15% dos estudantes da rede estão na unidade. Ela também falou da importância da clínica-escola em construção e citou a responsabilidade dividida com Caps, Apae e Espaço Florescer.
A diretora executiva da Associação de Pais e Amigos dos Autistas de Goiás, Janaina Athayde, falou sobre a mãe de autistas, que segundo ela acabam não tendo vida social e para participarem de uma simples audiência pública precisam fazer uma verdadeira “operação de guerra”. “Sei disso porque fiz uma negociação forte lá em casa, por isso cheguei atrasada”.
Segundo Janaina, Anápolis é hoje referência no atendimento aos autistas em Goiás, recebendo pessoas de diferentes partes do país para conhecer o trabalho local. “Mesmo a passos lentos estamos conseguindo progressos”, afirmou.